O Parnasianismo surgiu na França em 1866 com
a publicação de uma coletânea de versos denominada O Parnaso. O parnasianismo vinha sendo difundido no
Brasil desde 1870. Os poetas
parnasianos eram contra certos princípios românticos; em lugar da simplicidade da linguagem, do emprego de sintaxe e vocabulário mais brasileiro, do sentimentalismo
e da valorização da paisagem nacional, defendiam uma poesia de elevado nível
vocabular, uma poesia objetiva e racionalista, priorizando o aspecto formal,
através do verso bem ritmado, dos efeitos plásticos e sonoros. Ainda no Brasil, tínhamos a "Tríade
Parnasiana", composta por Alberto de Oliveira, Raimundo Correia e Olavo
Bilac, poetas que mais fielmente seguiram os princípios parnasianos, enchendo
suas poesias de preocupações com aspectos formais, vocabulário raro e preciso,
impassibilidade, com descrições objetivas de objetos, cenas e coisas, sem
preocupar-se em descrever o homem, as pessoas, sem transcendências e
sentimentalismo, de forma neutra.
O parnasianismo
Diferentemente do Realismo e do Naturalismo
que se voltavam para as críticas da realidade, o Parnasianismo representou na
poesia o retorno ao clássico. Seu surgimento foi na França com a publicação de
“Le Parnasse Contemporain”, o nome “Parnasse”,
em português parnaso, associa-se ao parnaso grego, um monte grego onde segundo
a lenda era consagrado a apolo e às musas.
O parnasianismo surgiu timidamente no
Brasil em “Versos e Sonetos (1880)”,
obra de Luiz Guimarães Júnior e “Fanfarras
(1882)” de Teófilo Dias, e firmou-se definitivamente com Raimundo Correia
em “Sinfonias (1883)”, Alberto de Oliveira em “Meridionais (1884)” e Olavo Bilac em “Relicário (1888)”.
Características do
Parnasianismo Brasileiro
Ideal
Científico de objetividade:
O autor parnasiano vai tentar ser o mais objetivo possível.
Obediência
a regras, modelos: Os
parnasianos vão chegar ao cúmulo do estabelecimento de regras, tornando-se, até
mesmo, absurdos.
Busca
de perfeição formal:
A obediência a regras tem como objetivo uma forma perfeita, bela e pura.
Ocorre, no entanto, um problema: ao se preocuparem excessivamente com a forma,
esquecem o conteúdo.
Forma
exclusivamente poética:
Podemos dizer que o Parnasianismo é exclusivo da poesia, assim como o
Realismo-Naturalismo é próprio da prosa.
Preferência
pelo soneto:
Considerando o soneto, forma fixa de dois quartetos e dois tercetos.
Exemplo:
Língua portuguesa
Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na
ganga impura 1º
Quarteto
A bruta mina entre os
cascalhos vela...
Amo-te assim, desconhecida e obscura.
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens
o trom e o silvo da procela, 2º Quarteto
E o arrolo da saudade e da ternura!
Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo! 1º Terceto
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,
Em que da voz materna ouvi: "meu filho!",
E em que Camões chorou, no exílio amargo, 2º Terceto
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!
Olavo Bilac
Perfeição
absoluta da linguagem:
A confecção do poema exigia uma língua apurada, culta e elevada.
Musicalidade: Sendo a preocupação formal muito
grande, os poetas atingiam, até mesmo, a musicalidade das vogais, das palavras
ou do verso.
Possibilidade
de temas ridículos: A
excessiva preocupação formal deixou em segundo plano a preocupação com a
mensagem, a ideia. Daí gastarem poemas inteiros na descrição de um simples vaso
ou muro, como faz Alberto de Oliveira em “Vaso
Chinês”.
Vaso Chinês
Estranho mimo aquele vaso! Vi-o,
Casualmente, uma vez, de um perfumado
Contador sobre o mármor luzidio,
Entre um leque e o começo de
um bordado.
Fino artista chinês, enamorado,
Nele pusera o coração doentio
Em rubras flores de um sutil lavrado,
Na tinta ardente, de um calor sombrio.
Mas, talvez por contraste à desventura-
Quem o sabe?- de um velho mandarim
Também lá estava a singular figura.
Que arte em pintá-la! A
gente acaso vendo-a,
Sentia um não sei quê com aquele chim
De olhos cortados à feição de amêndoa.
Alberto
de Oliveira
A arte pela arte:
Objetivo estético em primeiríssimo plano.
Caráter descritivo: As
descrições são as modalidades que melhor se adaptam a visão materialista e
lógica da realidade.
Ligações com motivos
clássicos: Quer na visão do mundo exterior, quer na mitologia.
Técnica do verso
preestabelecida: A obra de Olavo Bilac e Guimarães Passos,
Tratado de Versificação, vai determinar regras consideradas essenciais para a
elaboração de um bom poema. São elas:
- Culto do soneto – Constituído de duas quadras (estrofe com
quatro versos) e de dois tercetos (estrofe com três versos). O soneto não é
somente um tipo de poema a mais, senão o único tipo que tem número de versos
absolutos (14 versos) e quase absoluta unanimidade quanto à divisão estrófica
(dois quartetos e dois tercetos).
- Aversão ao hiato – (Pronuncia
duas vogais consecutivas, separadamente). Usavam como recurso a sinaleta
(Passagem de um hiato para um ditongo – duas vogais na mesma sílaba).
- Preferência pelos versos
terminados em palavras paroxítonas (Tonicidade na penúltima sílaba) chamados graves.
- Preferência pela rima rica
e rima rara–
As rimas
ricas ocorrem quando as palavras rimadas pertencem a classes gramaticais
diferentes:
“Sonha
... Porém de súbito a violento
Abalo
acorda. Em torno as folhas bolem...
É o
vento! E o ninho lhe arrebata o vento”.
Nessa estrofe, a palavra
violento, do primeiro verso, é um adjetivoe rima com a palavra vento, do
terceiro verso, que é um substantivo.
As rimas raras ou perfeitas ocorrem quendo as palavras rimadas
apresentam terminações incomuns:
“Que ouço longe o orácio de Elêusis.
Se um dia eu fosse teu e fosses
minha,
O nosso amor concebaria um mundo
E de teu ventre nasceriam deuses”.
Raul de Leôni
Nessa estrofe, o substantivo
próprio Elêusis, do primeiro verso, rima com o substantivo comum deuses, do
quarto verso. O que importa na rima é apenas o som e não a letra, por isso, não
há nenhum problema em Elêusis com i e deuses com e.
- Existência da consoante de apoio na sílaba onde começasse a
identificação dos sons finais, a consoante seria marco inicial –
- Preferência pelos versos decassílabos - Os versos compostos por dez
sílabas poéticas.
- Preferência, ao lado do verso decassílabo, do verso alexandrino –
Busca do verso composto de doze sílabas poéticas.
A tríade parnasiana
foi formada apenas pelo fato dos três citados serem os que mais se destacaram
no movimento. Olavo Bilac, Alberto de Oliveira e
Raimundo Correia.
Olavo
Bilac
Olavo Brás Martins
dos Guimarães Bilac (seu nome completo é um perfeito verso alexandrino), (12
sílabas). Olavo Bilac
(Rio de Janeiro RJ, 1865-1918) começou os cursos de Medicina, no Rio, e
Direito, em São Paulo, mas não chegou a concluir nenhuma das faculdades. Em
1884 seu soneto Nero foi publicado na Gazeta de Notícias, do Rio de Janeiro. Em
1887 iniciou carreira de jornalista literário e, em 1888, teve publicado seu
primeiro livro, Poesias. Nos anos seguintes, publicaria crônicas, conferências
literárias, discursos, livros infantis e didáticos, entre outros. Republicano e nacionalista,
escreveu a letra do Hino à Bandeira e fez oposição ao governo de Floriano
Peixoto. Foi membro-fundador da Academia Brasileira de Letras, em 1896. Em
1907, foi o primeiro a ser eleito “príncipe dos poetas brasileiros”, pela
revista Fon-Fon. De 1915 a 1917, fez campanha cívica nacional pelo serviço
militar obrigatório e pela instrução primária. Destaca-se em sua obra poética o
livro póstumo Tarde (1919). Parte das crônicas que escreveu em mais de 20 anos
de jornalismo está reunida em livros, entre os quais Vossa Insolência (1996).
Bilac, autor de alguns dos mais populares poemas brasileiros, é considerado o
mais importante de nossos poetas parnasianos.
Alberto de
Oliveira
Alberto de Oliveira
(Palmital de Saquarema [Saquarema] RJ, 1857 - Niterói RJ, 1937) publicou seu
primeiro livro de poesia, Canções Românticas, em 1878. Na época, trabalhava
como colaborador do Diário, com verso e prosa, sob o pseudônimo Atta Troll. Em
1883 conheceu Olavo Bilac e Raimundo Correia, com os quais formaria a tríade do
Parnasianismo brasileiro. Formou-se em Farmácia, no Rio, em 1884. Iniciou o
curso de Medicina, mas não chegou a conclui-lo. Na época publicou Meridionais (1884),
e em seguida Sonetos e Poemas (1886) e Versos e Rimas (1895). Foi inspetor e
diretor da Instrução Pública Estadual e Professor de Português e História
Literária no Colégio Pio-Americano. Em 1897 tornou-se membro-fundador da
Academia Brasileira de Letras. Publicou Lira Acaciana (1900), Poesias (1905),
Ramo de Árvore (1922), entre outras obras poéticas.
Foi eleito "Príncipe dos Poetas Brasileiros", em 1924, por concurso
da revista Fon-Fon. Em 1978 foram publicadas suas Poesias Completas. Alberto de
Oliveira é um dos maiores nomes da poesia parnasiana no Brasil.
Raimundo
Correia
(Barra da Magunça MA 1859 - Paris França 1911) teve seu
primeiro livro de poesia, Primeiros Sonhos, publicado em 1879. Nos anos
seguintes, foi redator da Revista Ciência e Letras e colaborador dos jornais A
Comédia, Entr'ato e O Boêmio. Formou-se em Direito, em São Paulo, em 1882; no
mesmo ano mudou-se para o Rio, onde entrou para a magistratura. Em 1883, sairia
seu livro de poemas Sinfonias; seguiriam-se Versos e Versões, 1883/1886 (1887),
Aleluias, 1888/1890 (1891) e Poesias (1898). Foi membro-fundador da Academia
Brasileira de Letras, em 1897, mesmo ano em que secretariou a legação
brasileira em Lisboa. O poeta forma, com Olavo Bilac e Alberto de Oliveira, a
tríade fundamental do Parnasianismo brasileiro.
Além de Alberto de Oliveira, Raimundo
Correia e Olavo Bilac, que configuraram a chamada tríade parnasiana, o movimento
teve outros grandes poetas no Brasil, como Vicente de Carvalho, Machado de Assis, Luís Delfino, Bernardino Lopes, Francisca Júlia, Guimarães Passos, Carlos Magalhães de
Azeredo, Goulart de Andrade, Artur Azevedo, Adelino Fontoura, Emílio de Meneses, Antônio Augusto de Lima, Luís Murat e Mário de Lima.
É possível verificar com as análises feitas
neste presente artigo, que embora o Parnasianismo e a tríade parnasiana - bem
como os demais poetas parnasianos - apresentem suas características fixas,
recorrentes na maioria das obras parnasianas, como busca da perfeição formal,
vocabulário culto, gosto pelo soneto, apego à tradição clássica, Arte pela
Arte, e tantas outras características abordadas neste breve estudo. Os principais autores brasileiros
parnasianos - a saber, Alberto de Oliveira, Raimundo Correia e Olavo Bilac -,
ao construir suas poesias, utilizaram outros elementos e recursos, em alguns de
seus poemas, mostrando a impossibilidade de um "poeta impassível", e
impermeável a todo e qualquer elementos que não esteja na origem e essência do Parnasianismo.
Este artigo foi importante também para mostrar a
importância e necessidade do estudo e análise dos próprios poemas.
Referências
Livro:
Linguagens.
Autor:
Cereja, William Roberto
e Magalhães, Thereza Cochar.
Editora: Editora Atual
Ano: 2005